quarta-feira, 22 de abril de 2009

Berenice e eu

Ela é meu retrato sem enfeites. É tudo que meu ego abafa e que a minha educação não permite que transpareça. Ela ora beira o abismo e volta para o chão firme, ora brinca de gangorra na beira do precipício, ora joga futebol com a cabeça dos outros.
Seu nome é Berenice.
Berenice pode ser pseudônimo, alter-ego ou orgulho ferido. Eu não ligo. O que realmente importa é que ela faz parte de mim e eu faço parte dela e juntas somos tudo que poderíamos ter sido e o que ainda seremos ou talvez nunca possamos ser.
Ela tem cabelos pretos, cacheados e com as pontas roxas. Os olhos castanhos estão sempre envoltos numa maquiagem preta e triste. Por mais que se esforce para sorrir, um rosto verdadeiramente feliz é muito pesado.
Algumas pessoas pensam que ela quer aparecer com esse seu jeito diferente, mas o que Berenice realmente desejava era não existir ou, pelo menos, ser uma pessoa forte.
Ela é tão fraca que não consegue chorar e, muito menos, perdoar. Perdoar as pessoas. Perdoar-se. Perdoar os erros do passado.
Ela é tão fraca que sente raiva ao invés de tristeza e derruba gotas de sangue ao invés de gotas de água.
Meu nome é Gabriela.
Eu gosto de ler, principalmente, livros que mexam com as minhas entranhas. Leituras intensas assim como eu. O cinema é outra paixão e queria assistir a todos os filmes bons que existem... Os ruins também. Acredito que quando morrer terei feito apenas uma ínfima parte do que queria fazer.
Tenho ódio no coração, mas também tenho amor latente. Sou ambivalente. Meio preta. Meio branca. Meio triste. Meio feliz. Meio certa. Meio errada. Sou milhares de contradições.
A minha paixão verdadeira é a escrita. Ela me salva dos meus piores medos e acalma a minha alma ansiosa. O meu sonho – se eu realmente tiver um – é ser uma escritora de verdade, ter vários livros publicados, ser reconhecida pelo que escrevo.
Berenice.
Ela gosta da loucura do Cazuza, o jeito como enfrentou todos os seus medos vivendo dentro deles e as músicas lindas que compôs. Amy Winehouse é seu mais novo colírio. Pinga no olho e embaça a visão. Essa morrerá daqui a poucos anos e será como uma Janis Joplin contemporânea. Mayra Dias Gomes chama a sua atenção. Desperta entendimento e ao mesmo tempo indignação. Uma perda pode machucar, mas não deveria por fim a vida de outro alguém.
Eu, Gabriela.
Eu volto no tempo como se fosse um vídeo qualquer – talvez o vídeo da minha vida. Remexo nas feridas, tiro as casquinhas e depois corro e pego o remédio para que não sangre mais.
Eu e Berenice fazemos parte de um mesmo ser. Não um ser completo, mas um cheio de lacunas, espaços negros, céus azuis, choro guardado, luz escondida, interrogações e feridas doídas.
Essa sou eu. Essa é ela. Assim somos nós.

Um comentário:

Fabiano Coutinho disse...

MAs eh sempre assim mesmo,nunca estamos contentes com nosso momento.Queremos sempre mais e mais...

Muito legal seu blog,vou acompanhar!
Prazer!