terça-feira, 26 de junho de 2007

Maçãs vermelhas e dissimuladas

Ah, maçãs vermelhas e dissimuladas. Paradas ali, lembravam insistentemente aquela maçã perfeita; porém, envenenada, que a bruxa dera para a Branca de Neve, quase a matando. Fiquei com medo delas. Ora, que bobagem. Eu, mãe de dois filhos, com medo de maçãs por causa de fábulas infantis. Bom, mas no fundo eu sabia que não era por causa de historinhas de criança que eu não gostava de maçãs. Essas frutas me remetiam aos meus medos mais íntimos e profundos.

Como era possível? Lembrava-me de quando dera meu primeiro beijo com medo de engravidar, ou quando cortei meu dedo com a tesoura e achei que iria morrer. Ah, e aquela vez, aquela em que minha mãe sumiu entre as outras tantas pessoas no supermercado e achei que nunca mais a veria, enxergando na minha frente apenas uma pilha enorme de maçãs tão vermelhas e apetitosas quanto essas. É, acho que fiquei com trauma de maçãs depois daquele terrível dia, e voltei a comê-las algumas vezes, tão raras que posso contar nos dedos.

Meu medo só foi aumentando. Ficou para sempre em mim aquela angustia por perder as pessoas que gostava por ser tão pequena e impotente diante de frutas tão bonitas, atrativas e mentirosas. Esse era um sentimento tão infantil e já era pra ter passado, afinal, fazem mais de trinta anos desde que perdi minha mãe no supermercado e esse foi um caso solucionado, porque logo ela apareceu, me pegando no colo e secando minhas lagrimas de criança assustada; porém, aquele medo nunca mais saíra de mim.

Ao longo da vida fui perdendo tantas pessoas entre essas maças que cada vez fui as odiando mais e mais. Como podiam ser frutas tão atrativas e mentirosas, os seres mais dissimulados que já conheci. E agora as vendo ali, naquela mesa em que tantas refeições foram feitas em meio a juras de amor eterno, e carícias das mais profundas. Agora, vê-las ali, impotentes, seguras de si, brilhantes, ah, vê-las ali me tornava por um instante tão pequena e indefesa quanto no dia em que perdi minha mãe, pena que agora era para sempre, e pena também que não era minha mãe, mas meu marido.

Acho que ele nunca mais irá me agarrar no colo e comigo fazer amor naquela cama grande com lençóis egípcios. Nunca mais vou sentir o calor do seu corpo quente sobre o meu nas noites frias de inverno, e seus sussurros refrescantes que me davam arrepios. Nunca mais. Ah, maçãs vermelhas e dissimuladas.



OBS.: o texto publicado no dia 25/06, é de autoria de Julia Marangoni, que tem 11 anos, isso mesmo! 11 anos e já começou, e muito bem, o caminho da escrita. :)

2 comentários:

Feliz disse...

a maça foi o princípio do fim, né? adão, eva, branca de neve...

Anônimo disse...

Amayyy o texto! :D
Estava dando 1 passadinha no seu blog!
Acho que vc vai curtir o que eu escrevo!
http://sanatorio-municipal.zip.net

Uma beijoka :D