segunda-feira, 21 de maio de 2007

Vida despedaçada



São muitos os filmes que nos fazem pensar; porém, são poucos os que nos deixam sem dormir de tanto pensar. Abril Despedaçado é assim: um filme brasileiro do diretor Walter Salles que nos remete a tantos pensamentos com sua fotografia escura e densa e a poesia intensa e paradoxal do sertão brasileiro mostrando o amor, o ódio, os sonhos infantis, a sociedade engolidora de indivíduos e a autodestruição por conta de orgulho, prepotência, deveres sociais. Um filme completo e simples.

A história se passa no Nordeste dos anos de 1910, mas em muitos aspectos nos lembra os dias de hoje. Guerras seculares entre famílias que aos poucos foram se dizimando e se tornando pessoas frias e sem grandes perspectivas de vida, com o ódio no coração. A necessidade de vingar a morte de alguém para honrar o nome da família. Isso me lembra a nossa realidade. Quando abrimos o jornal e lemos sobre o tiroteio que aconteceu no Rio de Janeiro por causa de marcação de território das drogas, a bomba que explodiu num metrô de Londres porque os ingleses apoiaram os Estados Unidos ou os mil mortos do Iraque depois de uma batalha com o exército americano. Nada mais nos surpreende. Imagine! Cem anos se passaram e só as desculpas mudaram, porque o ato continua. A prepotência e necessidade de auto-afirmação ainda reinam sobre nós.

Muitos lutam, matam e, no entanto, os reais motivos disso tudo já se perderam no tempo. As pessoas, simplesmente, continuam nessa roda viva que, no filme, é metaforicamente representada pelos bois que rodavam, presos pela cabeça, ao redor do engenho, mas quando os donos os soltavam, continuavam a rodar. Nós fazemos o mesmo. Estamos dando voltas nesse ciclo forte que aos poucos nos despedaça, enfraquece os nossos sentimentos e torna sem sentido a nossa vida.

Pacu – o menino -, irmão de Tonho - Rodrigo Santoro - no filme, antes de morrer por ter sido confundido com o irmão que estava vingado de morte, diz que queria viver no mar, pois lá as pessoas não morriam, havia lugar para todos e ele ainda iria ficar perto da sua sereia, o amor. Amor que – na terra – luta com o ódio e se machuca, ficando cada dia mais fraco, até esmorecer. Assim como uma fruta que a árvore gera e ampara, mas que a medida que vai crescendo, amadurece e cai podre no chão. E eu não sei se é assim mesmo no mar, mas se assim fosse, também para lá me mudaria, porque não é só nosso Abril que se despedaçou, mas nossa vida que está se despedaçando.

domingo, 20 de maio de 2007

Caminhos da Natureza

Várias bases iguais
Formações diferentes
Alguns viram marginais
Outros seguem decentes.

Ah, a vida é uma caixa
Caixinha de surpresas.
Tem pessoas baixas
e muitas malvadezas.

Mas sempre há o Sol
que brilha até cegar
e muitas pessoas boas
No seu calor botam-se a esquentar.

Também há o vento
que nos põe a voar
e nunca ficamos ao relento
até nosso caminho encontrar.

sexta-feira, 18 de maio de 2007

Ah, saudade

Antes eu achava que a saudade era um sentimento ruim e que não deveria existir. Não entendia o porquê dessa distância que temos de ter algumas pessoas que amamos: amigos queridos, parentes, namorados, ou dos momentos que passaram e não voltarão jamais. Continuo sem saber o motivo; entretanto, encontrei uma definição bem mais reconfortante para a palavra saudade.

Saudade é aquele sentimento da lembrança do que um dia nos fez felizes, de algo que foi realmente bom. É ter a certeza de que por mais longe que as pessoas estejam, ou por mais tempo que os momentos tenham passado, nós nunca os esqueceremos. Saudade é uma prova. Prova de amor.

E a melhor parte é quando podemos amenizá-la. Uma sensação de ansiedade com aquele ‘friozinho na barriga’ de como se fosse a primeira vez. Uma sensação diferente, única, especial, feliz. Quando podemos dar aquele abraço bem forte em alguém que estávamos esperando há tanto tempo, receber aquele carinho e estar com aquela pessoa ali, cara a cara, olho no olho, naquele momento. Ah, saudade. Você machuca, mas faz tão feliz.

Eu acho que tu existes pra provar o amor. Não sei. E por mais que tu machuques, és tão bela. A palavra mais bonita da língua portuguesa, pois reúne dentro de ti outras mil.

quarta-feira, 16 de maio de 2007

agora da para todo mundo comentar, porque arrumei o mecanismo de comentários. ;)

thanks e desculpem o transtorno.

Marisa, o inverno e eu.

Ela era uma mulher normal. No auge de seus trinta e dois anos, morava com o namorado num apartamento simples e, sinceramente, não era aquilo que tinha sonhado pra sua vida. Ela queria mais, muito mais. Tinha estado em Paris, Nova York e, no entanto, voltara para um kitnet desprezível no Brasil.

Da modelo que fora um dia, depois de ter viajado por tantos lugares, hoje se resumia a uma simples representante de produtos de beleza com um namorado cozinheiro. O luxo passou e o resto virou lixo. Aquela beleza que a sustentara por quase cinco anos, agora só servia para vender desodorantes e cremes antiidade.

Marisa Vitella. Era pra esse nome ter feito sucesso. Era pra ela estar morando em Paris, ter um namorado rico. Passar as férias no Caribe. Ser reconhecida internacionalmente. Era, era sim. Mas não aconteceu e Marisa viveu desde então na sombra do que um dia poderia ter acontecido, lembrando do que passou e nunca mais voltará. E ela continuou lá, na sua infelicidade habitual, criando contos de fada para se reconfortar. Pobre Marisa. Mal sabia que o presente também podia ser bom.

Marisa me faz pensar em você e, de certa forma, em mim também. Às vezes, fico lembrando daquele tempo, quando morávamos em Gramado e víamos as hortênsias florescerem sempre que o inverno ia embora. Lembro-me do seu jeito de me abraçar quando o frio era muito forte e de como colocava a touca de lã em minha cabeça de criança me dando beijos estalados. Ah, Marisa me faz ter boas recordações.

Sinto pena dela, mas sinto pena de mim também. Porque assim como o passado glorioso dela não voltará jamais, você também não voltará para mim. Sinto saudades do jeito que me olhava, e de como me fazia carinho, mas diferente de Marisa, eu preciso seguir em frente, por mais que isso doa.

Fiquei um tempo vivendo daquelas boas lembranças; porém, acho que agora preciso viver a vida do jeito que ela está, e isso significa, sem você. Mas tenha certeza de que tudo aquilo que nos aconteceu naqueles cincos anos de invernos rigorosos, jamais esquecerei. Porque nunca me senti tão segura quanto quando estava contigo. E nunca vou esquecer da força com que pegava minha mão para atravessarmos a rua, de como nos despedimos naquele último dia em que te vi e da maneira verdadeira que você me desejou toda a felicidade do mundo.

Sinto saudades, mas quero seguir em frente e Marisa deveria seguir também. Ela pode ser muito feliz com o namorado cozinheiro e eu sei que posso ser feliz sem você. Mas a lembrança continuará sempre a povoar nossa mente e a saudade doerá eternamente. Mas vou seguindo, porque eu sei que o que você mais queria era a minha felicidade, e eu irei de tê-la, por ti, e espero que Marisa viva com o que tem de bom por aqui, hoje, agora, e deixe as memórias na cabeça e no coração, assim como estou tentando fazer.

terça-feira, 8 de maio de 2007

Artista, que homem és



Sabe aqueles momentos que palavra nenhuma nunca poderá traduzir? Assim me sinto depois de ter assistido a um show de um grande artista, que além de ser um ícone da MPB, ainda é escritor e esbanja simpatia. Sim, eu estou falando de Chico Buarque, aquele que, mesmo sendo um mito, dá a mão para as fãs no show. Esse mesmo, que volta duas vezes depois de a platéia pedir ‘bis’. Um ser humano.

Humano, assim como nós. De carne, osso e coração. Foi esse o Chico que eu percebi aos meus 16 anos e é assim que haverei de me lembrar dele para o resto da vida. Um artista que sente. Simples assim. Sente as dores do mundo, as desilusões amorosas. Sente as mulheres. Sente a beleza do Rio de Janeiro, e de todo Brasil e consegue nos passar tudo isso e muito mais através da sua voz, da sua escrita, da sua presença serena e bela.

Isso sim que é artista. Pobre dos que ainda não conhecem sua linda obra, porque conhecer Chico Buarque é conhecer parte da vida. Felizes de nós, brasileiros, que o temos aqui. E além de tudo, ele adora jogar futebol. Tem coisa mais normal que isso? Ah Chico, só espero que você não nos abandone por muito tempo, vê se manda notícias. Artista, que homem és

29/03/2007

“Sempre, dura a vida alguns instantes,

Porém mais do que bastantes,

Quando cada instante é sempre”

(Chico Buarque)